O mecanismo de auto – sabotagem desenvolvido pelo ego humano é sem dúvida, uma das maiores armadilhas que podemos ver nos dramas atuais da vida psíquica.
Uma das principais armadilhas do ego para a auto – sabotagem é o sentimento de culpa diante de situações aparentemente irreversíveis.
O ser humano que quer receber atenção por carência neurótica tem a tendência inconsciente de se sentir culpado, por sofrimentos, que não provém de sua responsabilidade, mas que, se ele, então, assume a culpa, se sente mais importante e pode até desenvolver através disso, um sentimento de pertencimento à realidade. Sentimento esse, que o faz se perceber mais importante que os demais. Este comportamento gera egos mal educados e neuróticos.
Infelizmente, se por acaso o ser não foi amado pela mãe, e teve dificuldade de desenvolver um eixo ego-self satisfatório à formação de uma personalidade saudável, ocorremos numa exceção patológica em geral, pois para perdoar a limitação da mãe, o ser desenvolve o sentimento de culpa por existir, e consequentemente, um vitimismo e negativismo profundo diante da vida; já que o ser deseja amar a mãe, mesmo sendo rejeitado por ela. Essa compensação pode ser revertida em terapia, ou em desenvolvimento de nova configuração arquetípica na relação com a Grande Mãe.
Mas aquele que sente culpa até pela própria existência, por carência auto-agressiva, deve rever todo o seu processo de desenvolvimento de personalidade e recriar sua conexão com o outro e com o mundo.
Devemos nos reconectar com nossa responsabilidade de enfrentamento da vida e estabelecer uma dialética de transformação e reelaboração da realidade em autonomia. Assumir culpa às vezes é mais fácil que desapegar do passado, e é também mais fácil do que transformar a leitura da realidade em algo baseado no eu que assume quem ele é, com todas as suas potências e também limitações, ou seja, autenticidade.
No lugar da culpa, devemos colocar a aceitação e o aprendizado; devemos parar de reforçar a vítima e então assumir o papel do protagonista de nossas estórias.
Temos muito o que amadurecer no que diz respeito ao enfrentamento da vida, procurar a culpa e o medo são formas extremamente ineficazes de elaboração da realidade, pois não trazem à consciência, a força necessária de afirmação das perdas e erros, inerentes ao processo de aceitação das frustrações da vida, bem como superação.
Devemos ter tolerância com as limitações da realidade, sem tamanhas resistências que geram somente proteção de egos feridos; devemos a cada dia estabelecer metas que nos movimentam em direção ao crescimento, assumindo nossas feridas, e desenvolvendo nossos potenciais.
Independente da forma como chegamos ao mundo, ou independente da forma como estamos no mundo, temos sempre a oportunidade de mudar e crescer. A culpa, em geral, não nos leva a lugar algum.
O arquétipo cósmico da grande Mãe Universal ou Pai Divino pode ajudar nesta ponte de restauração da consciência e desenvolvimento de conforto existencial, para posterior enfrentamento da vida.
Que saibamos aproveitar as oportunidades de renascimento!